Ponto 2 – Defesa da Educação

Olhando para a evolução do nosso sistema educativo, notamos que pouco mudou ao longo do tempo, apesar do mundo ter mudado. Continuamos a escolarizar em massa, a ver os alunos como números, preocupando-nos sobretudo em compará-los pelas aprendizagens dos conteúdos curriculares.

Os modelos de avaliação existentes servem apenas para percebermos se os alunos adquiriram os conhecimentos ensinados. Mas serão estes conhecimentos os essenciais ao desenvolvimento pleno dos alunos?

A vida é feita de testes, e não são testes de papel e caneta, são testes de sobrevivência e vivências absolutas, testes de resiliência, persistência e motivação. O sistema educativo, da forma como está implementado, revela grandes carências no desenvolvimento destas competências.

Uma criança emocionalmente saudável vive o ensino num binómio equilibrado entre o ganho e a perda, a ousadia e o retraimento, a liberdade e os limites, o direito e o dever. São os seus modelos de conduta familiar e os referenciais educativos, que lhe permitem estabelecer relações baseadas na compreensão empática, entender os seus sentimentos, as suas expressões corporais e linguísticas, os seus medos e a sua enorme vontade de ser aceite e amada.

Segundo Nietzsche, a primeira tarefa da educação é ensinar a ver. É inadiável ensinar o aluno a ver o Belo, a Harmonia e o Amor. Primeiro em si próprio, para que seja a partir da sua riqueza interior e da sua alegria, que aprenda a aprender-se.

As mudanças tecnológicas, de mercados, políticas e sociais, obrigam a uma adaptação constante aos reveses e desafios da realidade. O autoconhecimento é a mais-valia, que permite dar resposta às variadas contingências da vida. Através dele, o mundo envolvente expande-se com propósito e nele não se colecionam apenas conteúdos, mas também se ouve, vê e sente, descobrindo-se com atenção plena e presença.

A pedagogia tem que se centrar na pessoa e no seu desenvolvimento integral, com apelo ao estabelecimento de afetos, tanto quanto pela via material ou simbólica. É a relação direta, que possibilita o desenvolvimento da capacidade de compreensão das vivências pessoais, das ações e reações, do respeito por si mesmo e do gosto pela mudança, tanto em termos de conduta como de pensamento, num processo evolutivo consciente e saudável.

A par da autonomia nos estudos, importa trabalhar o amor-próprio, o cuidado consigo mesmo, a autoestima, a autoconfiança, a autoliderança emocional, a autoempatia, a assertividade e a resiliência, entre outras habilidades socio-emocionais.

Mais do que avaliar conhecimentos abstratos, tem que ser permitido às crianças e jovens errar várias vezes, sem que se sintam constantemente julgadas e aplicar a sua curiosidade e criatividade inatas, para que construam gradualmente o seu próprio padrão de desenvolvimento cognitivo. O ensaio de atitudes intra e interpessoais, por outro lado, estimulam tomadas de decisão e a escolha de valores, direitos, responsabilidades e deveres, que respeitem a sua integridade e individualidade.

Temos de agir na prevenção. Ou seja, temos de agir de forma a evitar que padrões negativos se instalem, de forma a causar distorções cognitivas, distúrbios de personalidade e comportamentos desajustados, difíceis de reverter. Prevenir que as pessoas adoeçam mentalmente ao longo da vida, investindo desde cedo na aquisição de estruturas internas, que lhes possibilitem uma vida realmente feliz. A satisfação é a base, para uma vida em harmonia, com compaixão e empatia entre todos.

Desta forma, o sistema educativo não se pode medir apenas pela reprodução de conteúdos, é também preciso aprender o que fazer com eles e, principalmente, importa desenvolver os alunos na sua plenitude, desde o âmago do seu Ser. Para tal, é necessário fazer mudanças no sistema educativo e está na hora, agora.

Mudanças urgentes se impõem e as primeiras ligam-se a medidas recentes:

a) A obrigatoriedade do uso de máscara a partir dos 10 anos de idade deve ser imediatamente abolida, uma vez que limita o exercício de direitos, de liberdades e garantias das crianças e jovens, no contexto escolar;

b) Outras medidas que consideramos ineficazes e contraproducentes são: a medição da temperatura, os intervalos reduzidos, as janelas abertas, o distanciamento social e a proibição de partilha de material. Estas imposições retiram a essência pedagógica do processo de ensino-aprendizagem, por eliminarem a componente afetiva, essencial às relações interpessoais na comunidade educativa;

c) A não utilização de manuais no ensino, não é desprovida de sentido, tal como experimentamos nesta fase, com recurso às novas tecnologias no ensino à distância. Incita à criatividade didática do professor, ao mesmo tempo que diminui o peso que os alunos transportam diariamente nas suas costas.

É urgente adotar metodologias de projeto e outras metodologias educativas inovadoras, centradas no aluno, promovendo a diferenciação pedagógica, a autonomia e a criatividade, tornando-os mais autoconscientes, mais atentos ao Outro e ao seu impacto sobre o mundo.

Que com esta mudança se escreva uma nova história para o nosso país na área da educação. Uma história em que possamos viver a vida em plenitude e em harmonia com todos os seres deste planeta, uma vez que Todos Somos Um.