Ponto 10 – Produção Interna

Urge recuperar e apostar nos sectores de produção nacionais, procurando uma economia nacional mais forte e soberana, resiliente e sustentável. Só uma economia menos dependente do estrangeiro pode reduzir a dívida externa e potenciar riqueza e melhor qualidade de vida aos cidadãos, pelo que se impõe localizar a economia a nível nacional.

A inovação deve ser promovida ao nível regional e local, interligando a produção agrícola das variedades regionais típicas com a indústria de transformação, sustentada em modelos cooperativos ou associativos, que permitam a pequenos e médios produtores ganhar escala e uma distinção no mercado com base em qualidade e não em quantidade. Há que privilegiar as práticas ecológicas e biológicas, a policultura em vez da monocultura, as produções tradicionais e a não contaminação dos solos, tal como a pequena e média escala, em detrimento da escala industrial.

É urgente uma gestão e governança da terra, de forma que:

1) A floresta nativa nacional seja rentável, com recurso a modelos de agrofloresta que permitam a produção e os serviços ambientais em equilíbrio, com limitação das florestas monoespecíficas e dos seus impactos ambientais.

2) As áreas críticas de ecossistema sejam protegidas, como é o exemplo da apicultura, em risco devido à política de limpeza de terrenos; assim como das bacias hidrográficas e bolsas de biodiversidade autóctone.

3) Os sectores da agricultura, pecuária, florestas e todas as indústrias ligadas a estas actividades, sejam considerados como a melhor forma para corrigir as assimetrias regionais e Litoral/ Interior. Por conseguinte, importa não apenas reter o capital humano que já conhece a terra, faz-se necessário assegurar que se transmitam os saberes, as artes e as técnicas às próximas gerações.

4) O Estado participe deste processo, apoiando a criação de escolas em espaço rural, que formem os novos agrários e os insiram no mercado de trabalho. Estimule a implementação de serviços associados, para que estas áreas sejam mais rentáveis.

O sector das pescas é vital para Portugal, dada a cobertura geográfica oceânica, em modelos sustentáveis e equilibrados com a gestão dos recursos naturais. Importa promover a inovação no sector e conferir-lhe maior dinamismo através de:

1) Aposta em novos modelos de negócio.

2) Desenvolvimento da investigação de novas técnicas de produção de pescado, especialmente em alto mar, em substituição da pesca de arrasto.

3) Exploração da extensa plataforma continental portuguesa, assegurando a biodiversidade e a preservação do habitat das espécies.

Tanto a agricultura como o sector das pescas devem estar articulados com os mercados e as feiras locais, de modo a fazer chegar ao consumidor os produtos nacionais frescos.

A indústria nacional, em todos os sectores, tem que ser apoiada na inovação e na sustentabilidade, de forma a tornar-se num contributo real para as necessidades nacionais e ganhar competitividade nos mercados internacionais. Enquanto agente dinamizador, o Estado deve:

1) Definir as indústrias nacionais como fonte de abastecimento para as suas necessidades e incentivar o mercado interno a acompanhá-lo, nesse suporte a todo o ciclo das cadeias de produção industriais.

2) Assumir como prioritárias as indústrias com maior tradição no país, como é o caso da indústria têxtil, do vestuário e calçado, do mobiliário, moldes, vidros, construção e reparação naval e a indústria automóvel.

3) Apoiar a criação de redes de sinergias, promover a criação de associações e cooperativas entre os diversos envolvidos, para alcançar economias de escala, melhorar a rentabilidade, facilitar a colocação da produção nos mercados internacionais e formar ou captar talentos.

4) Investir na investigação, desenvolvimento e inovação, sobretudo na transformação digital e tecnologia avançada, na sustentabilidade e internacionalização, como forma de alavancar a produtividade e a competitividade. Capacitar a indústria nacional para responder aos grandes desafios, que resultam da digitalização, da economia circular e da transição energética.

Para apoiar o comércio recomenda-se a criação de canais de cooperação, de modo a que os produtos portugueses tenham preferência na distribuição nacional. A diplomacia económica deve ser prioritária nas actividades do Ministério dos Negócios Estrangeiros, com vista à exportação da marca Portugal. Assumir como mercados prioritários os países de Língua Portuguesa.

O sector dos serviços deve ser o diferencial que agrega valor aos negócios de outros sectores nacionais, assumindo-se como a extensão da agricultura e da indústria. É necessário tornar este sector capaz para os desafios da customização, numa economia cada vez mais verde e digital.

O turismo deve ser encarado com responsabilidade. É um sector importante e por isso mesmo tem que respeitar as populações, os locais, o património e a natureza. Por outro lado, Portugal não pode ser dependente da volatilidade das tendências e preferências do mercado de turismo global, sensível a crises, como vimos em 2020. Ele tem que ser entendido num diálogo, em que de um lado é suportado pela identidade nacional e no outro a promove, em estreita relação com a cultura, o património, as tradições e a portugalidade. Dessa forma, beneficia e é beneficiado por todos os sectores de actividade.